quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Papa Poluição, o verbete






PAPA POLUIÇÃO

  • Paulinho Costa
  • Luís Penna
  • Beto Carrera
  • Tiago Araripe
  • Bill Soares
  • Xico Carlos

Dados Históricos e Artísticos

Grupo de pop-rock formado por Paulinho Costa (voz e guitarra), Luís Penna (guitarra e voz), Beto Carrera (guitarra e voz), Tiago Araripe (violão, percussão e voz), Bill Soares (baixo e voz) e Xico Carlos (bateria) na cidade de São Paulo em 1975. A maioria dos seus integrantes era de nordestinos. Tiago, Bill e Chico eram do Ceará, Paulino e Luís, da Bahia, e o restante do grupo, da capital paulista. Com tendências experimentais, mesclava a MPB ao "hard rock", com citações de textos do poeta concreto Décio Pignatari.

Discografia

  • Rola coco/Guerra fria/Em nome do rock/Brechando nas frestas (1976) - Chantecler - Compacto duplo.
  • A tua ausência/Inferno de criação (1977) - Top Tape - Compacto simples.

Observação deste Blog:

O nome correto da faixa do compacto duplo é Brechando nas gretas. Apenas Beto Carrera é paulista; Bill Soares é Pernambucano. Depois Cid Campos, também paulista, substituiu Bill.

A faixa Rola Coco (José Luiz Penna/Tiago Araripe) foi reproduzida como música incidental no novo longa-metragem de Rosemberg Cariry, Cine Tapuia. No filme, o cantor Rodger de Rogério (que integrou o Pessoal do Ceará) interpreta um cego inspirado no famoso cantador Cego Aderaldo.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Easy Rider do sertão

A classificação do Guia para Sargento Getúlio não é das mais felizes. A "discutível simpatia pelo personagem", por exemplo, é discutível. Imagino quantos trabalhos, que demandaram tempo, inteligência e dinheiro, são reduzidas a notas breves feitas segundo a visão pessoal do crítico de plantão. O que não tira a validade do Guia. Tive que inserir, como estava, o verbete no sistema. Ossos do ofício. Eu colocaria uma estrela a mais na classificação. E examinaria mais o contexto em que se deu a história de João Ubaldo Ribeiro. O que pude fazer foi escrever a nota comparando o filme de Hermano Penna com o de Dennis Hooper. Talvez nem seja uma boa comparação. Mas, cada um a seu modo, são dois filmes importantes. Certamente Sargento Getúlio merece uma revisão mais generosa. E mais justa.

Tiago Araripe






Cinema: música e letras

O lanterninha (existiu um?) do Cine Cassino aponta com o facho de luz o meu lugar. Passo por entre as cadeiras de madeira da platéia e chego aos bastidores do mundo do cinema em São Paulo. Graças ao Papa Poluição José Luiz Penna, hoje presidente nacional do Partido Verde, participo de algumas trilhas de filmes: um curta de Jorge Bodanski, o documentário de Hermano Penna A mulher no cangaço e o longa Sargento Getúlio. Até que, trabalhando como revisor de textos, chego na equipe de redação do Guia de Filmes para TV e Vídeo da Nova Cultural. Uma espécie de oásis em meio a tarefas mais árduas, como revisar a Enciclopédia Nova Larousse ou romances femininos água-com-açúcar que pareciam ter sempre o mesmo enredo. Ali, durante três anos seguidos, convivi com pessoas que pareciam respirar cinema 24 horas por dia. E ainda ganhava algum dinheiro para me manter e pagar a pensão das minhas filhas.

A publicação era organizada por gêneros, e havia
especialistas em gêneros específicos como Musicais e Infantis, e subgêneros como Ópera e Balé. Às vezes aconteciam longas discussões para decidir se determinado filme merecia três ou quatro estrelas, se era policial ou de suspense, se dada informação era ou não relevante. Mesmo não sendo da turma, me senti em casa.

Minha principal tarefa no Guia era digitar os verbetes para abastecer o programa de classificação dos filmes, além de revisar os textos dos boxes informativos. Com o tempo passei a propor também pautas e redigir pequenas matérias. Uma delas, como não podia deixar de ser, teve como tema o filme Sargento Getúlio. É o que você vai ver no próximo post.

Tiago Araripe

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Sargento Getúlio, o filme

Por falar em cinema (vide post anterior), vamos dar um salto no tempo. Do ambiente bíblico/hollywoodiano de Sansão e Dalila passamos ao cenário nordestino de Sargento Getúlio. Ao herói interpretado por Victor Mature contrapomos o anti-herói vivido por Lima Duarte. Saímos da paisagem interiorana do Crato, no sul do Ceará, e mergulhamos no cosmopolitismo de São Paulo, no Centro-Sul do país. Estamos no bairro do Bixiga, diante da moviola da Blimp Filmes, vendo o copião de Sargento Getúlio. O convite do diretor Hermano Penna é um desafio: quer que o Papa Poluição faça a trilha musical do seu road-movie sertanejo. José Luiz Penna, parceiro de Quando a pororoca pegar fogo, uma das faixas de Cabelos de Sansão, faz anotações sobre as cenas. As imagens são fortes, de grande plasticidade. Eu já havia lido o romance de João Ubaldo Ribeiro, do qual gostara muito. Logo entro no clima do filme.

Discutida a idéia da trilha, Penna, Paulo Costa e eu distribuímos as composições. E cada um põe mãos à obra. Leio mais uma ou duas vezes o romance, assinalo trechos, empunho o violão. Horas mais tarde nos reunimos com os demais Papa Poluição (Xico Carlos, Beto Carrera e Cid Campos), as composições são mostradas e começamos a preparar os arranjos musicais de base. Convidamos o maestro Mauro Giorgetti (irmão do diretor de cinema Ugo Giorgetti) para os arranjos de cobertura. E em cerca de 48 horas estamos com toda a trilha gravada.

Gostamos do resultado, de sonoridades regionais bem diferentes do que o Papa Poluição apresentava nos shows. Um trabalho que, ao contrário do que esperávamos, não chegou a ser lançado em disco. Cinco anos depois, tendo Hermano finalmente conseguido recursos para ir aos Estados Unidos ampliar seu Sargento Getúlio para 35mm, o filme ganhou o grande prêmio do Festival de Cinema de Gramado (1983). Mas quando procuramos os tapes para produzir o disco, o estúdio havia apagado metade das músicas simplesmente porque precisava reutilizar as fitas.

A canção Urubus, que interpreto na abertura enquanto aparecem os primeiros créditos, foi gravada há poucos anos por um grupo mineiro chamado Ozorríveis, que me localizou pela internet. Ao contrário do que parece, a gravação é bem interessante.

Tiago Araripe

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Sansão e Dalila, o filme

O primeiro filme que assisti na vida foi Sansão e Dalila, superprodução de Cecil B. DeMille com Hedy Lamarr e Victor Mature. A produção americana, de 1949, demorou alguns anos para chegar ao Crato. Eu tinha apenas quatro anos de idade quando me levaram àquela sessão da tarde no Cine Moderno. (Resisto à tentação de dizer que isso aconteceu no Cine Cassino, um dos três cinemas que existiam na cidade e nome de uma das faixas de que mais gosto no Cabelos de Sansão - daria mais charme a este relato.) A experiência foi inesquecível. Fiquei, ao mesmo tempo, fascinado e aterrorizado. Queria correr e queria ficar. Fiquei até o fim. Na cena final, tremi na base e entrei em pânico. Quando Sansão balançou as duas colunas de sustentação e derrubou o palácio do rei, achei que o cinema inteiro estava caindo sobre a minha cabeça. Saí do cinema ainda aos berros.

Algumas imagens permaneceram na minha memória durante anos. Depois, com os adventos do videocassete e do DVD, pude assistir o filme outras vezes e relembrar aquele momento tão impactante que marcou para sempre minha relação com o cinema. Cine Cassino, a música, mostra um pouco isso. A letra utiliza cortes e imagens cinematogáficos, abrindo espaço para a imaginação do ouvinte fazer a sua parte. A composição foi gravada também pelo cantor e compositor cearense Luís Carlos Salatiel. Foi cantada por Zeca Baleiro em barzinhos, antes de ele ser um nome na música brasileira, e em alguns shows do já famoso artista (tive o prazer de cantá-la com ZB em novembro de 2005, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza).

O Cine Cassino, que funcionou durante anos na Praça Siqueira Campos, no quarteirão diante da casa onde nasci na rua Miguel Limaverde, não existe mais: no seu lugar está instalada uma lanchonete. Foram mantidas as características do prédio original. O Cine Moderno também foi para o além. Idem para o Cine Educadora, a casa da Miguel Limaverde e quase todas as casas em que morei no Crato.

Eu continuo vivo, graças a Deus.

Tiago Araripe

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Pausa para um mote

Imagine uma canção em que dialogam duas linguagens.
A primeira é rápida e eletrônica, contemporânea.
A segunda é tranqüila e acústica, extemporânea.
Uma atiça, agita. A outra flui, respira.
O que seria da vida sem contrastes?
Som na imaginação, maestro.

a.

O mundo gira ligeiro
de janeiro a janeiro
nos ponteiros dos segundos
todos querem ser primeiro.

b.

Devagar se vai ao longe
se dizia desde sempre
vou armar a minha rede
na sombra do seu alpendre.



Tiago Araripe

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O que a Veja viu


Um alternativo na Veja

Em maio de 1982, a grande novidade na mídia foi a Guerra das Malvinas. Fazia tempo uma guerra não chegava tão perto, embora elas continuem insistindo em entrar em nossa sala pela tela da TV. Ingleses e argentinos à parte, Cabelos de Sansão chegava ao front da grande imprensa. Na sua edição de 26 de maio, a despeito da invasão da capa, a revista Veja abriu o que me pareceu um generoso espaço para comentar o disco. Uma pequena vitória da música alternativa. Houve credor que me ligou, achando que eu atingira o sucesso e estava rico. Mero paradoxo.

O artigo que você vai ver a seguir é do jornalista Okky de Souza. O título, à época, me pareceu mais uma ironia: eu não estava vivendo um casamento feliz. Ainda bem que o tempo cura e refaz. Ainda bem que a gente tem sempre a chance de rever a própria história com um sorriso nos lábios.

Tiago Araripe

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O leão da capa

Dividir a capa do disco com um leão tem lá os seus percalços. Primeiro, porque a idéia era contracenar com um leão de carne e osso. Segundo, porque a fera precisaria ser - naturalmente - mansa. Estive num daqueles circos que se instalam nas proximidades da Marginal Tietê. O animal enjaulado não me inspirou muita confiança: um leão velho, mas de olhar hostil. Fui então até o Simba Safari. Havia, sim, um leão mansinho. Na verdade, um leãozinho: tinha 8 meses. Mas pulava com tanta energia de um lado para o outro da jaula, que o treinador disse que poderia me machucar brincando...

Até que alguém me falou do Leão do Imposto de Renda. Parecia ser a solução ideal: um animal perfeitamente domesticado, acostumado às lentes das câmaras. Descobri que o leão era administrado a partir de um escritório localizado na avenida Pompéia, onde entrei numa tarde fria e cinzenta típica da paulicéia. Ao expor minha pretensão ao homem da administração, este olhou minha estampa meio hippie, magro e cabeludo, e começou a rir. Não entendi nada até ouvi-lo dizer, ainda rindo: "O leão vai ganhar mais dinheiro do que você".

Descobri então que a fera que tanto assustava os contribuintes era uma estrela, tratada por um verdadeiro séquito de veterinários, pedicures, cabeleireiros, maquiadores e que-tais. Um leão que dormia com ursinho de pelúcia do lado e era cedido para campanhas publicitárias por meio de contratos leoninos. Em suma, um verdadeiro rei da selva... urbana.

O administrador tinha razão: a capa de Cabelos de Sansão era pequena demais para nós dois...

Tiago Araripe

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A volta de Cabelos de Sansão

Paulicéia, anos 80. Um teatrinho em frente à Praça Benedito Calixto torna-se ponto de encontro da chamada vanguada paulistana. Ali se apresentam Itamar Assumpção, Tetê Espíndola, Premeditando o Breque (hoje Premê), Passoca, Vânia Bastos, Língua de Trapo, Papa Poluição e tantos outros nomes. Ali dou os primeiros passos solo, depois de cinco anos integrando o Papa Poluição. Tenho como banda de apoio o Sexo dos Anjos (Luiz Brasil, Cid Campos, Felipe Avila e Xico Carlos). Naturalmente, o primeiro palco é o Lira Paulistana.

O teatrinho integra um centro de produções independentes que inclui um selo musical, uma editora gráfica e nem-lembro-mais-o-quê. À frente, Wilson Souto Jr., a quem chamávamos carinhosamente de Gordo. O Lira Paulistana havia produzido seu primeiro disco, o ótimo vinil Beleléu, do Itamar Assumpção. Convenci o Wilson de que o meu LP seria o próximo.

Um ano de arranjos, ensaios, arregimentação de músicos, concepção/produção da capa e mais de 300 horas de estúdio depois, eis que é lançado Cabelos de Sansão. Uma proposta ousada para os padrões independentes (sempre achei melhor o termo alternativo) da época: 33 músicos, cada faixa com conceito distinto - em respeito à idéia da composição, master feita nos Estados Unidos, capa com a assinatura do designer gráfico Alexandre Wollner, participações especialíssimas de talentos como Itamar, Tetê, Vânia Bastos, Passoca, Oswaldinho do Acordeon, Tony Ozanah... E um presente: a versão exclusiva feita por Augusto de Campos para a belíssima Little Wing (Asa Linda), de Jimi Hendrix (eu costumava colecionar gravações dessa canção).

Mais de 25 anos depois, graças a Zeca Baleiro e Rossana Decelso, que conduzem o selo Saravá Discos, Cabelos de Sansão voltará à tona em CD histórico remasterizado. O objetivo deste blog é dar vez à trajetória do disco, que pode abrir espaço para outros vôos. Com novas asas.

Aguarde. E nos falemos.


Tiago Araripe