Foto: Xico Carlos, em show do Papa Poluição na Estação São Bento do Metrô (São Paulo).Este Blog lança, aqui e agora, campanha de utilidade pública para localizar o paradeiro do músico cearense Xico Carlos.
(Quem souber de alguma pista que leve até ele, peço que entre em contato comigo.)
Xico Carlos foi integrante do Papa Poluição desde a primeira hora. Aliás, desde antes e até depois. Participou do meu compacto simples
Sodoma e Gomorra. Formou comigo, José Luiz Penna e Paulinho Costa o grupo de apoio de Tom Zé em 1974. Ao longo dos cinco anos de vida do Papa Poluição, foi ponta firme na bateria.
Depois, já com o Sexo dos Anjos, fizemos o show que funcionou como cartão de visita para o meu ingresso no cast do Lira Paulistana. Em seguida, na gravação do disco
Cabelos de Sansão, atuou com o grupo nos arranjos de base. Além de contribuir com bateria e percussão em diversas faixas, ele toca o baixo em
Asa linda - versão de Augusto de Campos para
Little wing, de
Jimi Hendrix. Estivemos juntos também nas apresentações de lançamento do
Cabelos no Lira.
Músico versátil, sempre demonstrou afiado senso de humor. Ouvi dele tiradas engraçadas. Uma delas comparava duas ruas de São Paulo: uma muito popular, em Pinheiros, e outra sofisticada, no Jardim Paulista. Não se tratava de uma simples comparação. Na maneira de ser de Xico Carlos, soava como um posicionamento de vida:
"Não troco dez Augustas por uma Teodoro Sampaio", afirmou.
Certa ocasão, o Papa Poluição voltava de uma apresentação no interior paulista após exaustiva viagem na kombi Sofia Bundete. Fomos direto para o Teatro João Caetano, na Vila Mariana, onde tocaríamos na mesma noite. O show começou em grande estilo. Efeitos de luz, os músicos entrando displicentemente no palco e criando, aos instrumentos, uma atmosfera sonora de magia e encantamento. Até que disparamos, finalmente, o primeiro número. Eu ao microfone. Cansados e insones que estávamos, foi o primeiro de uma sucessão de erros. Simplesmente não lembrei a letra da música. E olha que costumava cantá-la em muitas outras apresentações. Como recurso desesperado, emendei uma performance desengonçada no palco. Fazia sons com a voz, para suprir a falta da letra. E me contorcia em uma espécie de dança descordenada.
Ao ver a marmota, Xico Carlos não se conteve e gritou: "O filho de Jósio endoidou!"
A partir daí, o show desandou. Quando concluiu, estávamos arrasados. Passada a frustração, só nos restou rir de nós mesmos e dar a volta por cima.
Xico Carlos, cadê você?
Tiago Araripe