quinta-feira, 29 de maio de 2008
Da Web: Tiago Araripe "Cabelos de Sansão"
n
Agora as impressões são de quem esteve por dentro do processo de elaboração e gravação do disco: o guitarrista e compositor Felipe Avila. Arranjador da faixa Cine Cassino, ele escreve sobre Cabelos de Sansão na sua coluna Música, no site Granja Viana (acesse aqui).
n
Para quem não sabe Granja Viana é um surpreendente bairro de Cotia, na Grande São Paulo, permeado por generosas áreas verdes. Sempre que estive lá me deparei com projetos inovadores em segmentos diversos, como educação e design gráfico. É significativo saber que Felipe é um de seus moradores.
n
À comunidade da Granja Viana, aquele abraço.
n
Tiago Araripe
sexta-feira, 23 de maio de 2008
Da Web: A MPB esquecida
Antes mesmo de ser lançado, o CD Cabelos de Sansão já é notícia na Web. O jornalista Alan de Faria, na coluna a.r.t.e. do site Trópico, publicou recentemente texto em que fala dos novos lançamentos da Saravá Discos. Entre eles, Cabelos de Sansão.
"Com a Saravá Discos, Zeca Baleiro lança trabalhos de cantores menosprezados pelas grandes gravadoras", escreve ele na abertura do artigo.
Veja, aqui, o texto na íntegra.
Cabelos ao vento
Até a chegada do LP Cabelos de Sansão às lojas de discos, muitos cabelos voaram ao vento.
Os cabelos revoltos do grupo Nuvem 33, na Recife do início dos anos 70.
Os cabelos compridos do Papa Poluição, na São Paulo da segunda metade da mesma década.
Os cabelos fartos do Sexo dos Anjos, nos anos 80 que apenas principiavam na paulicéia.
Conexões que vêm à tona na forma de depoimentos e imagens, laços que a ação do tempo não rompeu.
E, bem antes disso, as bandas cabaçais, os reizados, o maneiro-pau... A riqueza cultural do Cariri cearense, pleno de cores e sons. Os discos de Luiz Gonzaga, Marinês e Jackson do Pandeiro, contracenando com a música dos Beatles e todo um universo pop que eclodia nas ondas do rádio.
Durante o percurso, Tom Zé, Décio Pignatari, Augusto e Haroldo dos Campos. O Lira Paulistana, com Itamar Assumpção, Grupo Rumo, Premê, Tetê Espíndola, Arrigo Barnabé, Língua de Trapo e tantos outros.
Depois de tudo isso, a história se recicla: Zeca Baleiro descobre o vinil de Cabelos... num sebo do Rio e resolve, com Rossana Decelso, relançar o disco em CD.
Novas histórias estão prestes a começar.
Tiago Araripe
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Cabelos de Sansão, por Felipe Avila
Tiago convidou o meu grupo Sexo dos Anjos para participar das gravações e me pediu que fizesse o arranjo da música Cine Cassino. Pra mim, foi um momento muito especial, uma oportunidade para escrever e criar à vontade no meu primeiro arranjo para um disco e para um grande artista.
Escrevi, para a música Cine Cassino, um arranjo para violões, cello, percussão e piano. Uma música misteriosa e muito original.
Conheci Tiago Araripe através do meu amigo Cid Campos, que junto com Tiago e os músicos Zé Luiz Penna, Paulinho Costa, Beto Carrera e Xico Carlos, formavam o grupo Papa Poluição.
Nesta época, morávamos todos na Vila Madalena - um bairro bem localizado que parecia ser uma cidade do interior. Lá tínhamos aluguel barato, fazíamos nossos ensaios nas casas em que morávamos e, depois, íamos tomar cerveja, no fim do dia, no boteco “sujinho”, onde tínhamos conta (rs).
Nossos encontros eram quase que diários e, naturalmente, foi surgindo daí uma grande amizade, com respeito e cumplicidade em nossas idéias, e os trabalhos que plantamos ali vieram a acontecer em diversas oportunidades.
Nessa fase, Cid Campos, Luiz Brasil, Xico Carlos e eu estávamos montando um grupo para estudos e pesquisas, um laboratório de sons onde tocávamos também nossas composições. Precisávamos dar um nome para o grupo que começava a surgir, e foi Tiago quem sugeriu o nome Sexo dos Anjos. Aceitamos na hora!
Quando Tiago Araripe pensou em gravar o trabalho solo dele Cabelos de Sansão, e convidou o grupo Sexo dos Anjos para participar das gravações e dos arranjos, fiquei muito feliz mesmo.
Os ensaios destinados à gravação do disco aconteceram na casa do Luiz Brasil, num clima muito gostoso, onde pudemos compartilhar sugestões e idéias, experimentar e tocar à vontade.
Um disco muito bonito, que marcou época e agora está disponível em CD. Vale a pena ouvir este trabalho tão original, com música de qualidade tão atual.
Felipe Avila
Observação deste Blog:
A previsão é que o CD Cabelos de Sansão seja entregue pela fábrica no dia 20 de maio. Ou seja: muito em breve estará disponível ao público.
Outras vozes - Felipe Avila
Se o que melhor apoiasse determinada canção fosse um quarteto de cordas com viola e tabla indiana, assim seria feito (caso de Redemoinho). Se a formação ideal fosse de rock ou forró, idem (casos de Meg Magia e Fôlego de 7 gatos).
O resultado é que, para atender a esse princípio, o disco ao final contou com a população de 33 músicos dos mais variados estilos e procedências. Muitos, inclusive, sequer chegaram a se ver durante as gravações.
Havia o risco de tudo parecer um grande balaio de gatos. Felizmente, não foi o que aconteceu.
Para Cine Cassino, eu imaginava um arranjo que pudesse acentuar o clima pouco linear da letra, introduzindo uma atmosfera contemporânea capaz de contrastar com o caráter aparentemente confessional da canção.
Logo pensei em convidar o Felipe Avila (nas fotos, hoje e à época do Sexo dos Anjos) para escrever o arranjo. A escolha se revelou das mais acertadas: ele captou bem o clima da composição, e sua participação resultou em uma instigante peça com piano (Felix Wagner), cello (Ricardo Lemos) e violão (executado pelo próprio arranjador).
Por meio deste Blog, retomei o contato com Felipe depois de anos. Tem sido uma grata surpresa. Recebi dele, pelo correio, uma caixa com três CDs que lançou recentemente: Quase Tudo (Editio Princeps, 2008), Beatles Brasil (Editio Princeps, 2005) e Janela (independente, 2003). Soube também da participação dele em diversos discos. E agora recebo, de Felipe Avila, depoimento sobre aquele início dos anos 80, quando se deu a gravação de Cabelos de Sansão.
É o que você vai ver no próximo post. Fique ligado.
Tiago Araripe
quinta-feira, 15 de maio de 2008
O show do Papa na Emcetur. Por Mona Gadelha.
Essa introdução de memória afetiva é para relembrar um dia que jamais esqueci.
Aconteciam poucos shows na cidade. Nossa diversão era circular pelos bares – havia um aonde a gente ia, sem um tostão no bolso, chamado “O Bigode do Meu Tio”, na Aldeota, o outro lado da cidade para mim, que morava no Centro, na Rua Senador Pompeu.
A turma era quase toda do Centro (Siegbert Franklin, Lúcio Ricardo...). O Tui Falcão, sempre animadíssimo, não, era da Aldeota mesmo. E naquele ano – algo entre 1977 e 1979 – a gente sabia que o Papa Poluição (foto), grupo de nosso conterrâneo radicado em São Paulo, Tiago Araripe, iria se apresentar no Teatro da Emcetur.
Na tarde do show fui com o Siegbert a um armarinho comprar alfinetes gigantes para “costurar” uma calça em que ele cabia umas dez vezes. Era o modelito punk para o show do Papa. Eu já estava com meu longo vestido psicodélico, bordado de paetês por minha irmã.
Sentamos todos na primeira fila. E participamos do show com o nosso afã de adolescentes. Conhecemos Tiago, com seus cabelos de Sansão, muito amoroso com seus fãs. Ficamos amigos. E como eu adorava, naquela época, ir ao correio mandar cartas, e mais ainda de receber, começamos nossa história epistolar. Era engraçado receber as belas cartas escritas pelo Tiago com endereço de uma tal rua Wisard, na Vila Madalena, lugares tão distantes para mim na Fortaleza desconectada do mundo.
Hoje ando sempre pela Rua Wisard, onde fica o estúdio 185, do amigo Beto, e no Bar Piratininga, onde toca o Beba Zanetini. Moro em São Paulo. E Tiago em Fortaleza. Fizemos o caminho inverso. A música do Papa era divertida, original, ousada. Certamente aquela noite em que eles se apresentaram no Teatro da Emcetur deve ter influenciado todos nós que começávamos a tocar por puro prazer – e queríamos ser punk.
Saudades de Meg Magia.
Mona Gadelha
Outras vozes - Mona Gadelha
Quando o Papa Poluição se apresentou no Teatro da Emcetur, em Fortaleza (1978), estava na platéia uma jovem cearense que se tornaria vigorosa intérprete do cenário musical brasileiro.
Falo de Mona Gadelha. Considerada"musa dos roqueiros" na Fortaleza dos anos 70/80, Mona foi responsável, ao lado dos cantores Lúcio Ricardo e Siegbert Franklin, pela introdução do rock e do blues no Ceará. O fato é referendado no livro ABZ do Rock Brasileiro, de Marcelo Dolabela. (Também estou na publicação, na letra A de Araripe e na letra P de Papa Poluição.)
Anos depois nos tornaríamos amigos e compartilharíamos a mesma professora de canto em São Paulo, Cláudia Mocchi. Ao mesmo tempo Mona desenvolveria consistente carreira musical, gravando três expressivos CDs: Tudo se Move (Brazilbizz Music, 2004), Cenas & Dramas (Eldorado, 2000) e Mona Gadelha (Movieplay, 1996). Isso além de lançar singles e participar de diversas coletâneas com outros artistas.
No próximo post, você vai ver o texto que Mona escreveu com exclusividade para este Blog. Nele, conta suas impressões sobre o show do Papa Poluição na Terra de Alencar e o contexto musical de Fortaleza à época.
Vale a pena aguardar.
Tiago Araripe
quarta-feira, 14 de maio de 2008
segunda-feira, 12 de maio de 2008
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Lira para a massa
A tentativa era fazer chegar o biscoito fino à massa, como diria Oswald de Andrade (aliás, a frase textual do modernista estava escrita em um muro na vizinhança do teatro).
Graças ao patrocínio de uma fábrica de jeans e ao apoio da Secretaria da Cultura do Estado, o Lira realizou projeto musical itinerante que teve estréia em plena Avenida Paulista, no 429º aniversário da cidade de São Paulo.
Lá estavam os grupos Premê, Rumo, Língua de Trapo, Paranga, Pé Ante Pé, Grupo Um, Hermelino e Santos Football Music... e Tiago Araripe.
Na época eu havia formado possivelmente a banda mais completa entre as que já trabalhei, a primeira que ia além das tradicionais guitarras e incorporava também teclado, sax e flauta.
Contava então com o auxílio luxuoso do pianista e arranjador Ricardo Lobo na arquitetura musical, assim como duas mulheres que davam mais graça ao visual das apresentações: Renata na guitarra e Teresa no sax.
A estréia na Paulista não foi das mais alvissareiras. A avenida, bloqueada ao trânsito na altura do prédio da Caixa Econômica Federal, estava abarrotada de gente. Aos primeiros acordes de Coração cometa, parceria com Jorge Alfredo que abre o disco Cabelos de Sansão, desabou um pé-d´água daqueles. A debandada foi geral. E olha que estávamos apenas começando a parte que nos cabia no show.
Seguiram-se mais dois espetáculos, ambos no litoral e igualmente populosos. Havia cerca de dez atrações em cada um deles, não necessariamente as mesmas. A chuva, no entanto, foi igualmente impiedosa. Primeiro na Praia do Gonzaga, em Santos. Depois na Praia Grande, onde houve quase uma reprise do que ocorrera na Avenida Paulista.
Tão logo começamos a tocar, o aguaceiro caiu. E mais: o vento forte levou todas as partituras das estantes dos músicos. As pessoas começaram a correr. Eu, que não estava exatamente conformado com a situação, fui para o extremo do palco e comecei a pular que nem maluco.
Depois, não sei bem como, processou-se uma espécie de milagre. As pessoas se detiveram para presenciar aquela cena inesperada (eu continuava aos pulos, no alto do palco enorme). A chuva passou como por encanto. O som voltou a funcionar, e chamei os músicos novamente à cena. Mesmo sem partituras, deflagramos uma música mais movimentada do repertório. O público começou a dançar. Estávamos redimidos.
Se os curandeiros norte-americanos algum dia descobriram a dança para fazer chover, naquele dia na Praia Grande - diante de milhares de pessoas apinhadas na orla -, inventei sem querer um tipo de dança para parar a chuva...
Tiago Araripe
Xico Carlos em Salvador
Recebi confirmações do que Francis Vale já havia informado: Xico Carlos está mesmo morando em Salvador. Obtive inclusive foto recente dele, que publico acima.
Mas o ex-baterista do Papa Poluição e do grupo Sexo dos Anjos estaria arredio a contatos (ver comentários relativos ao post anterior).
Por quê?
Se alguém puder mandar e-mail ou telefone dele para este Blog, desde já agradeço.
Tiago Araripe
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Onde andará Xico Carlos?
Este Blog lança, aqui e agora, campanha de utilidade pública para localizar o paradeiro do músico cearense Xico Carlos.
(Quem souber de alguma pista que leve até ele, peço que entre em contato comigo.)
Xico Carlos foi integrante do Papa Poluição desde a primeira hora. Aliás, desde antes e até depois. Participou do meu compacto simples Sodoma e Gomorra. Formou comigo, José Luiz Penna e Paulinho Costa o grupo de apoio de Tom Zé em 1974. Ao longo dos cinco anos de vida do Papa Poluição, foi ponta firme na bateria.
Depois, já com o Sexo dos Anjos, fizemos o show que funcionou como cartão de visita para o meu ingresso no cast do Lira Paulistana. Em seguida, na gravação do disco Cabelos de Sansão, atuou com o grupo nos arranjos de base. Além de contribuir com bateria e percussão em diversas faixas, ele toca o baixo em Asa linda - versão de Augusto de Campos para Little wing, de Jimi Hendrix. Estivemos juntos também nas apresentações de lançamento do Cabelos no Lira.
Músico versátil, sempre demonstrou afiado senso de humor. Ouvi dele tiradas engraçadas. Uma delas comparava duas ruas de São Paulo: uma muito popular, em Pinheiros, e outra sofisticada, no Jardim Paulista. Não se tratava de uma simples comparação. Na maneira de ser de Xico Carlos, soava como um posicionamento de vida:
"Não troco dez Augustas por uma Teodoro Sampaio", afirmou.
Certa ocasão, o Papa Poluição voltava de uma apresentação no interior paulista após exaustiva viagem na kombi Sofia Bundete. Fomos direto para o Teatro João Caetano, na Vila Mariana, onde tocaríamos na mesma noite. O show começou em grande estilo. Efeitos de luz, os músicos entrando displicentemente no palco e criando, aos instrumentos, uma atmosfera sonora de magia e encantamento. Até que disparamos, finalmente, o primeiro número. Eu ao microfone. Cansados e insones que estávamos, foi o primeiro de uma sucessão de erros. Simplesmente não lembrei a letra da música. E olha que costumava cantá-la em muitas outras apresentações. Como recurso desesperado, emendei uma performance desengonçada no palco. Fazia sons com a voz, para suprir a falta da letra. E me contorcia em uma espécie de dança descordenada.
Ao ver a marmota, Xico Carlos não se conteve e gritou: "O filho de Jósio endoidou!"
A partir daí, o show desandou. Quando concluiu, estávamos arrasados. Passada a frustração, só nos restou rir de nós mesmos e dar a volta por cima.
Xico Carlos, cadê você?
Tiago Araripe