Todos os músicos eram muito mais experientes do que eu, com muita estrada, shows realizados e ainda, no caso específico de Paulo Costa e Xico Carlos, com grande experiência em estúdios profissionais de gravação, onde trabalhavam regularmente. Isso tudo me fazia ver o quanto tinha a aprender e, ao mesmo tempo, sentia-me cada vez mais motivado diante dos novos desafios.
As composições do Papa eram feitas por Zé Luiz, Paulo e Tiago. As músicas eram muito bacanas, misturando rock com ritmos brasileiros, meticulosamente arranjadas por Paulo e executadas com maestria pelos integrantes da banda. Xico Carlos, exímio baterista, era expert em fazer levadas tipicamente brasileiras, que mescladas às guitarras de Paulo e Beto, definiam com precisão o estilo musical do grupo. As letras eram ecléticas, muitas vezes trazendo críticas sociais, como Na Fila do INPS, passando pela regionalíssima Rola Coco e chegando até Drácula, lindo tango de Tiago Araripe, sobre o poema/letra do poeta Décio Pignatari, cuja faixa, com interpretação de Paulo Costa, está incluída no CD Verbivocovisual (2007), por mim produzido em tiragem limitada e já esgotada, que homenageia a Poesia Concreta – mas pode ser escutado aqui.
Foram anos muito ricos para mim e realmente, através desses amigos, conheci de perto o mundo dos estúdios, dos shows e ensaios, que fazíamos na casa do Zé Luiz, na Vila Madalena, quando a Vila ainda não era nada do que é hoje. Passei nessa época a dividir uma pequena casa na rua Girassol com Xico Carlos, que se tornou especialmente um grande amigo e companheiro de batalha. Todos morávamos nos arredores, freqüentávamos assiduamente o bar “Sujinho”, na esquina da rua Morato Coelho com a rua Wisard, e de alguma forma pude acompanhar, junto a esses amigos, a chegada ao bairro de muitos outros músicos e artistas, o crescimento constante e finalmente o agito que acabou virando o bairro de Vila Madalena. Zé Luiz já morava por ali há algum tempo, mas creio que fomos alguns dos primeiros músicos cabeludos do bairro, que até então era habitado, em geral, por operários, antigos moradores e alguns bandidos, como o Lanchão – com quem éramos obrigados a conviver mas, com todo o respeito, atravessávamos a rua sem vacilar se o avistássemos no mesmo lado da calçada.
Participei também, com o Papa Poluição, dos arranjos de base e execução da trilha sonora do filme longa-metragem Sargento Getúlio, baseado em livro de Ubaldo Ribeiro, dirigido por Hermano Penna, cujas belíssimas composições foram feitas por Zé Luiz, Paulo e Tiago. As gravações ocorreram em São Paulo, no Estúdio Eldorado. Lembro que quando entrei nesse estúdio fiquei maravilhado com o tamanho da sala de gravações, a técnica com enormes caixas acústicas, a mesa de som e todos os aparatos técnicos característicos de um estúdio de grande porte. Jamais havia entrado num estúdio assim. Pensava comigo, quantas pessoas maravilhosas deveriam ter passado por ali, quantas gravações realizadas e que naquele mesmo ambiente Caetano Veloso gravara uma de suas obras mais fantásticas, Araçá Azul... Estava deslumbrado. Demorei um pouco para me acostumar com a luz vermelha que acendia quando se iniciava uma tomada de gravação e confesso que tremia na base quando o engenheiro de som dizia a palavra: – gravando! Porém, me tranqüilizava quando olhava para o lado e via Zé Luiz, Paulo, Tiago, Beto e Xico muito à vontade. Me saí muito bem nas sessões de gravação e realmente depois dessa experiência, me senti preparado para tudo.
(Continua)
Cid Campos
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Na imagem, reprodução da capa de peça de divulgação do show Projeto Blue Cap´s. Na foto central, de pé, Penna e Cid; agachados, Beto, Paulinho, Tiago e Xico Carlos.
2 comentários:
www.geraldojunior.palcomp3.com.br - onde baixar as musicas do CD
www.geraldojunior.com.br - site
ok, geraldo. vou lá. quero muito ouvir o seu novo cd.
abraço
tiago
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