quarta-feira, 26 de maio de 2010

"No coração da gente" repercute no Ceará

DISCO

Gírias do Nordeste

Diário do Nordeste, 26/5/2010

Os versos ritmados do alagoano Jacinto Silva, nas vozes de vários intérpretes, fazem de "No Coração da Gente" um caloroso e merecido tributo

Alagoano que trocou Palmeira dos Índios pela pernambucana Caruaru, Jacinto Silva (1933-2001) segue como referência para a música feita no Nordeste. Seja como intérprete, com ritmo, divisão e velocidade a la Jackson do Pandeiro, ou como o compositor de clássicos como "Gírias do Norte", "Aquela rosa" e "Coco trocado". Ao longo de quase cinco décadas de carreira fonográfica, amealhou 20 LPs e três CDs - o último deles, "Só não dança quem não quer", lançado em 2001.

Agora, a obra do cantor e compositor ganha um merecido e bem cuidado tributo com "Jacinto Silva - No Coração da Gente", CD produzido pela agência Link Comunicação e Propaganda, com participação direta do cearense Tiago Araripe - tanto na direção geral de produção do disco, quanto em uma das 16 faixas, cada uma delas destinada a uma voz, entre nomes consagrados do cenário nordestino e outros nem tão conhecidos pelo grande público. O autor do LP "Cabelos de Sansão", originalmente lançado em 1982 e recentemente reeditado pelo selo Saravá, de Zeca Baleiro, interpreta "Justiça divina", uma das faixas mais densas do álbum, com o bandolim de Publius em destaque na composição de Onildo Almeida, também de Caruaru, um dos grandes parceiros de Jacinto.

"Garimpar, para este disco, composições representativas do universo sonoro e´ poético de Jacinto Silva é se arriscar a deixar de fora muitas pepitas preciosas. Assumimos conscientemente o risco", destaca Tiago na apresentação do álbum, pontuando que as vertentes do bom-humor, dos valores da nordestinidade, do romantismo e da religiosidade estão presentes nas faixas selecionadas para o projeto, que chama atenção pelo belo projeto gráfico assinado por Marcelo Barreto, a partir de imagens colhidas no caleidoscópio da Feira de Caruaru.

Com uma embalagem tão apropriada, o melhor é que o conteúdo do disco não decepciona. Os arranjos, no geral, valorizam as características tradicionais da musicalidade bem nordestina das composições de Jacinto, mas não deixam de arriscar, aqui e ali, algumas novidades. Como na faixa de abertura, "Aboio de um vaqueiro", em que o saxofone de Spok, da Frevo Orquestra, faz as vezes de um berrante, na faixa que tem guitarra, coro e improviso vocal. Boa abertura para o arrasta-pé contagiante de "Aquela rosa", na voz de Margareth Menezes, e para o "Teste para cantador", momento em que o próprio Jacinto Silva dá as caras no disco, em dueto com o pernambucano Silvério Pessoa, que em 2000 já havia dedicado ao compositor o disco-tributo "Bate o mancá".

A simplicidade de "Minha professora", com o forrozeiro Targino Gondim, chega ritmada a valer. "Isso é Jacinto Silva! Machucado bom danado!", entoa o sanfoneiro, coberto de razão. Contraste com a mais lírica e cadenciada "Cante cantador", com Flávia Wenceslau, na faixa costurada pela viola dinâmica de Hugo Lins. Um diálogo com "É tempo de ciranda", outra de Onildo Almeida, na bela voz de Isaar de França puxando a ciranda estilizada e diferente, no trio guitarra, baixo e bateria, em mais um arranjo de destaque.

Poesia ritmada

Mas a veia do trabalho é mesmo a prosódia, rápida e ritmada, característica da maioria das composições de Jacinto e das faixas de outros autores por ele gravadas. Como "Moleque de rua", de Manoel Alves e Agenor Farias, cuja batida ganha as vozes de Caju e Castanha. Ou "Plantação", de Jacinto e Janduhy Finizola, mais pro xote mas também na batida das sílabas, com Maciel Melo cantando as coisas do homem do campo, "lá pras bandas de Caruaru".

"Filosofia no forró", de Manoel Alves e Tiago Duarte, e o "Coco de praia", de Francisco Azulão e Antônio Ramos, vêm, respectivamente, com Josildo Sá e o grupo Flor de Cactus, e apontam na mesma linha. Também celebrada pelo canto dorido de matizes de Xangai em "Pisa maneiro", de Juvenal Lopes e Dilson Dória, com direito a saudação do menestrel: "Já sinto sempre saudade de tu, Jacinto, o rei da fragmentação rítmica". Pois a tal divisão é exemplificada por Elba Ramalho, se saindo bem em "Gírias do Norte", clássico maior de Jacinto, com arranjo à altura.

Já a versão de Tom Zé para o "Coco do gago" ficou talvez mais comportada do que se poderia esperar do "bardo de Irará". Valeu, porém, o tributo a Jacinto. Com a alegria e as cores da nação nordeste.

CD
"Jacinto Silva - No Coração da Gente"
Jacinto Silva
R$ 37,90
16 faixas
2010
LINK

DALWTON MOURA
REPÓRTER




sexta-feira, 21 de maio de 2010

Novas parcerias no ar

Duas composições em parceria com Ricardo Alcântara, autor das letras, estão no novo CD de Marcos Lessa e Ricardo: Luzazul. O disco tem lançamento hoje e amanhã, em Fortaleza (Teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura).

Abaixo, reportagem publicada no Diário do Nordeste fala sobre o lançamento:

CD/SHOW

Música e transcendência

21/5/2010

A transcendência é o mote para as canções de "Luzazul", novo CD de Ricardo Alcântara, em parceria com o pianista Sávio Dieb e o cantor Marcos Lessa. O disco tem lançamento em shows hoje e amanhã, no Centro Dragão do Mar

No alto da montanha fui me procurar/ Eu fui em busca de um tesouro/ dentro de mim/ Perdido em algum lugar. Os versos fazem a ponte entre o disco "Canções do Eterno Agora", lançado por Ricardo Alcântara, em 2008, e seu novo trabalho: o CD "Luzazul", compartilhado com o pianista Sávio Dieb, responsável pelos arranjos, e com o cantor Marcos Lessa, que com não mais que 19 anos vem atraindo a atenção de músicos da cena de Fortaleza.

"Altar" é o nome da canção, assinada por Ricardo, Marcos e Francisco Casaverde e presente em ambos os discos. "O Marcos cantava esse música no outro disco. Gravando essa faixa naquela época, a gente pensou: ´Puxa, a gente devia fazer um disco assim´. E assim foi", conta Ricardo. "Essa música foi o protótipo desse novo disco".

Não só pela presença da dupla cuja parceria é robustecida agora com o novo CD. "Altar" também aponta para o norte temático de "Luzazul": o olhar para o próprio ser, a busca pelo conhecimento interior, os componentes espirituais expressos em metáforas como a da montanha, "mirante aberto para um firme olhar, manso farol do tempo sobre o mar".

"Fomos buscando, a partir daí, essas canções. Fazendo músicas dentro dessa linha e buscando melodias", diz Ricardo, que pinçou de Bob Dylan e Mark Knopfler temas originalmente desprovidos de letras e os incorporou ao projeto. "No meu outro disco tem uma letra para uma música do Bob Marley. Acho muito legal fazer isso, porque você parte da melodia. É muito bom botar letra em música, perceber as palavras que estão na música", diz, sobre o processo em que letrou "Wigwam", de Dylan (que abre o disco, sob o título "Sempre aqui") e "Father and son", de Knopfler, originalmente composta para uma trilha de cinema e agora gravada no disco de Ricardo como "Pai e filho".

Outra contribuição com compositores "do mundo" é "Outra vez", letra em português para "Golden days", de Chris Spheeris e Paul Voudouris. "São autores mais do new age, uma coisa que a gente namorou muito nesse disco, com essas vertentes. Do new age, do rock progressivo", reconhece Alcântara, sobre o trabalho em que a intenção dos arranjos de Sávio Dieb fica clara desde o início, sob uma atmosfera sonora convidativa à contemplação. "Se pudesse resumir em uma palavra, a gente quis fazer um disco com transcendência, com espiritualidade", aponta, sem receio das possíveis dificuldades de um trabalho que costuma ser associado a um segmento mais restrito.

"Eu sou uma pessoa que tenho uma prática espiritualista de meditação há 20 anos. O Marcos, que eu conheço desde que nasceu, porque sou padrinho de casamento dos pais dele, nasceu dentro de uma família também nessa tradição. O Sávio é espírita... Quando a gente pensou em fazer um disco a partir disso, pensamos que chegou a hora de falar dessas coisas. Sentimos esse desejo", aponta. "Mas o disco não tem nenhum caráter proselitista, até porque eu não saberia fazer isso. Mesmo quando era garotão, de 18, 19 anos, era comunista e vivia dentro de uma ditadura, nunca fiz música de protesto. Nunca acreditei que a música podia ser um veículo de convencimento de alguém. Nesse aspecto da espiritualidade, então, qualquer tentativa de convencimento de uma pessoa é mais inútil ainda".

Para o compositor, falam mais alto as possibilidades criativas, a partir do tema. "Se eu fizer um bom trabalho, vou fazer um bom trabalho dizendo qualquer coisa. Porque todas as verdades merecem ser ditas. A exigência da arte é que sejam bem ditas", delimita. "Essa resistência que existe a esse tipo de coisa, no meio intelectual e artístico, é uma coisa que eu não ligo pra isso não. Minha adesão à coisa espiritual é sincera demais pra ser negociada".

Parcerias

Alicerçado nessa convicção, Ricardo compôs com Marcos Lessa duas novas canções - "Luz em flor" e "Outro mar", - que se somam à citada "Altar". Mas o disco se destaca pelas parcerias de Alcântara com o também cearense Tiago Araripe, que após a reedição de seu álbum "Cabelos de Sansão", originalmente lançado em 1982 e trazido novamente à luz pelo selo "Saravá", de Zeca Baleiro, vem multiplicando suas iniciativas musicais nos últimos tempos.

"Se sei, não sei" e "Mantra psicografado" contam com participação de Lúcio Ricardo nos vocais, no álbum que tem ainda "Alhambra", de Ricardo e Caio Silvio, e "O que você fez da vida", parceria do poeta com David Duarte. "Essa tinha uma outra cara musical, mais pro blues. Entrou no CD por insistência do Marcos Lessa", destaca Ricardo, só elogios para o jovem parceiro e cantor. "É uma pessoa de um grande caráter e um cantor muito bom, muito promissor".

Para o lançamento, hoje e amanhã no Teatro do Dragão, Ricardo, Marcos e Sávio Dieb prepararam projeções com trechos de filmes consagrados da história do cinema e produções de diretores alternativos. Contarão ainda com as participações de Lúcio Ricardo, nos vocais, e Rodger Rogério, declamando poemas. "Luzazul" ganha o céu dos verdes mares.

CD
"Luzazul"
Ricardo Alcântara, Marcos Lessa e Sávio Dieb
R$ 15,00
10 faixas
2010
Independente

O DISCO tem shows de lançamento hoje e amanhã, sempre às 21 horas, no Teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Além do cantor Marcos Lessa e do pianista Sávio Dieb, os shows contarão com participações de Lúcio Ricardo e Rodger Rogério. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia).

DALWTON MOURA
REPÓRTER

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Encontro na Passadisco

O maestro Spok (à esquerda) junta-se a Silvério Pessoa, Edson Barbosa e Tiago Araripe ao aceitar o desafio proposto pelo projeto da Link: arranjar e interpretar a composição Aboio de um vaqueiro (Jacinto Silva) para o CD No coração da gente.

(Veja postagem completa no Blink, o blog da Link)

sábado, 1 de maio de 2010

Emoção no lançamento do tributo a Jacinto Silva

Fotos: Marcelo Barreto

Foto 1: Maria da Penha, D. Lieta Silva, Edson Barbosa, Tiago Araripe e Marcelo Queiroz

Foto 2: D. Lieta, Silvério Pessoa, Caca Barreto (Flor de Cactus), Publius e Zé da Flauta.


Um encontro de grandes nomes da música nordestina que foi regida com muita emoção. Assim, foi o lançamento do CD “Jacinto Silva. No coração da gente”, uma homenagem ao grande mestre forrozeiro, que nasceu em Alagoas e traçou boa parte de sua carreira na cidade de Caruaru, no interior de Pernambuco. O lançamento aconteceu na noite desta quinta (29), na Passa Disco (Shopping Sítio da Trindade, no Recife). D. Lieta e Maria da Penha, Viúva e filha de Jacinto, seguiram da cidade de Caruaru para acompanhar o lançamento e assistir ao making off do projeto.

O evento começou com Edson Barbosa, presidente da Link Comunicação & Propaganda, explicando que idealizou o projeto por acreditar na valorização da cultura e por ter nascido com o forró,na baiana Irará, terra do Trio Nordestino. “Jacinto tem uma obra digna de estudos e pesquisas. A cultura deve ser agregada a nossa vida todos os dias, por nós mesmos, mostrando trabalhos de relevância como os de Jacinto”, diz Edson.

Alguns dos artistas que participaram do projeto marcaram presença como Spok, Tiago Araripe, Josildo Sá, Silvério Pessoa e Caca Barreto, do grupo Flor de Cactus. Para Spok, o mais difícil no projeto foi mesmo cantar, já que o músico não era intérprete. “Jacinto é um gênio da música. Tinham coisas que ninguém sabia como que podia ser feito, mas que ele fazia”, diz.

Em discurso, Silvério Pessoa fez alguma revelações como o convívio que possuía com Jacinto e o incentivo do mestre ao músico quando resolveu seguir carreira solo. “Jacinto era como um pai para mim. Tínhamos um convívio muito saudável de pai e filho mesmo. Ele foi a mola propulsora para que eu seguisse a carreira solo, afinal no primeiro CD que fiz em carreira solo, 11 composições eram sua”, revela Silvério.

“Ao criar e produzir este CD, a Link continua a tradição de fortalecer e divulgar valores especiais da cultura brasileira”, afirma o presidente da Link, Edson Barbosa. O álbum dá continuidade à tradição da Link de produzir peças culturais de valorização das praças onde atua. “Procuramos resgatar figuras que merecem mais destaque no universo artístico brasileiro, como é o caso de Jacinto”, destaca Edson Barbosa.A produção e direção de conteúdo do CD foi de Tiago Araripe, já o projeto gráfico é assinado pelo diretor de arte Marcelo Barreto.

O CD foi gravado no Estúdio Muzak (Candeeiro Records) e reúne 16 músicas do repertório do cantor Jacinto Silva, com interpretações de artistas consagrados. “Estamos muito felizes e agradecidas por este lindo trabalho realizado com a obra de meu marido e eu posso dizer que após 9 anos de sua morte, Jacinto voltou”, emociona-se a viúva D. Lieta Silva ao fazer seu agradecimento.

Exemplares do disco serão distribuídos aos clientes e amigos da Link e à família de Jacinto Silva que poderá comercializá-lo. Os detalhes sobre o CD, incluindo o encarte, podem ser acessados pelo público no site da Link. Na Internet, as músicas podem ser ouvidas no perfil de Jacinto Silva no site MySpace - www.myspace.com/jacintosilva.

Débora Ramalho, da Executiva Press

(Texto publicado no Blink - o blog da Link, em 30/04/2010)

Tiago e Edson (Executiva Press)