quinta-feira, 13 de março de 2008

Achados e perdidos no ciber-espaço

Estávamos gravando no estúdio Eldorado aquela canção que falava dos Beatles, nas brechas dos jingles e pelo prestígio do Paulo Roberto, quando não sei vindo de onde, um cara chamado Scaramboni, produtor de sucesso nos anos 70, e Reinaldo Barriga, um rato de estúdio meu amigo até hoje, chegaram. Ouviram e gostaram muito de tudo. Principalmente dos custos quase zerados. Foram logo falando em LP. E nós, sem ouvirmos qualquer proposta industrial para o trabalho, insistimos num compacto de apresentação, coisa que hoje se faz muito.

A gravadora seria a Top Tape, e fomos para a divulgação entrando num mundo barra pesada. Foi impactante ver o outro lado da execução nas rádios. O jabá corria solto e a nossa gravadora não queria gastar nada com aqueles jovens irreverentes. Para nos acompanhar, nomeou um divulgador com muita rodagem chamado de Janelinha, apelido esse, suponho, de tanto implorar para tocar de graça. Certa vez, nos corredores da Rádio Globo, vimos ele desfilar, às sete da manhã, de bicha louca diante dos presentes para que sua majestade, o animador, tocasse a nossa música. Que humilhação praquele senhor baixinho.

Refletimos e chegamos à conclusão que nós teríamos que abrir o nosso próprio espaço. Fomos à Bandeirantes, que ditava a programação das emissoras na época, e conseguimos entrar. A canção foi sendo executada até um dia sumir de vez. Tivemos um trabalho danado para saber o que houve. Não é que a nossa gravadora tinha pedido ao programador da rádio para trocar o nosso espaço, conseguido a duras penas, pelo disco do Steve Wonder? Aí não deu mais. Fomos no dia seguinte, eu e o Tiago Araripe, bem cedo à Top Tape, munidos de bastões, e pixamos todos os cartazes dos astros internacionais com obscenidades. E ficamos esperando funcionários e diretores para recebermos nossa rescisão contratual. Foi um belo escândalo. Enfrentamos a partir daí o colapso total. As gravadoras determinaram o fim DISCOGRÁFICO do PAPA POLUIÇÃO.

Tiago foi de Cabelos de Sansão. Chico e Cid nos Sexos dos Anjos. Eu e Paulinho, uma dupla nada caipira. Beto foi pra noite e outros bicos. O Bill já tinha ido para sua prancheta de bom desenhista.

Essa historia precisava ser contada, pra que perrengas menores não explicassem o desfecho. Hoje tenho certeza de que não havia caminhos para a banda. Queríamos discutir o futuro da música industrial, e a alternativa da produção independente nos afastava desses objetivos, e teria vida curta, como de fato aconteceu. E o mercado do disco estava preso numa rede mesquinha de jabás, burrices e que-tais.

Hoje, depois de uma conversa que tive com músicos baianos, vejo impossibilidades novas. Não existe mais direitos autorais, e quem vive da composição sente os efeitos dramáticos da pirataria e da Internet. O pior é não existir compreensão clara sobre o futuro. Nem uma palavra oficial de alento. Lost in ciberspace.

José Luiz Penna

2 comentários:

Dalvinha disse...

Zezão, que prazer em ve-lo escrever no blog do nosso Tiago.Eu bem sei do que vc tá falando.Sei de tudo do Papa.Sei também que é amigo de verdade jamais deixará de ser.O Papa era muito além dos parâmetros musicais, vc vê hoje é que as Idéis(música de Paulo costa e Tiago)do grupo só agora surgem aqui, alí num grupo ou num cantor/compositor.Pois é amigo.Tudo bem o importante foi que emoções nós vivemos.E como vivemos.Meu consolo é que o Papa jamais será esquecido, sempre tem alguém que sabe alguma coisa do Papa.Deixou o nome na história.Mas nós PAPAMOS
Beijos
Dalvinha Costa

Dalvinha disse...

Tiago, sabe que estou gostando muito desse blog? pois é.Adoro fazer comentários, rever os amigos.É muito bom. E isso ouvindo
Idéis, que é tão sua tão paulinho, agora tem Vira'.Meu Deus vcs estão com uma cabeça maravilhosa.E que bom ver os 3 do Papa juntos.É bom demais.Beijos

Dalvinha