sexta-feira, 28 de março de 2008

Um gosto de muito mais

No mesmo 1982 em que o Lira Paulistana lançou Cabelos de Sansão, chegava ao mercado de discos o novo LP de Amelinha: Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor (na foto, a capa). Entre as faixas, uma das muitas canções que fiz em parceria com José Luiz Penna: Um gosto de muito mais. Amelinha gravou a composição em grande estilo, com arranjo hollywoodiano e gran finale em que emite agudo brilhante.

Com o auxílio instrumental de Cid Campos e Xico Carlos, que na época participavam comigo do Papa Poluição, eu havia gravado uma fita cassete com três canções. A fita tinha destino certo, e esse destino atendia pelo nome de Amelinha. Enviei as composições para ela e, tempos depois, a encontro no Maracananzinho, num daqueles festivais da canção que a Globo fez no Rio de Janeiro. (Possivelmente tenha sido no próprio que ela conquistou o segundo lugar cantando Foi Deus que fez você.) Para minha surpresa, Amelinha me disse que havia recebido a fita mas não entendera nada: a gravação estava com rotação alterada... Argumentei que a havia testado em mais de um aparelho, sem problemas. Sem querer ser insistente, dei o incidente como favas contadas.

Passam-se meses. Estou na labuta, revisando textos na Editora Abril, quando toca o telefone. É Amelinha, dizendo que gostara muito das músicas e queria gravá-las (das três canções, gravou duas - em dois discos seguidos). Na ocasião era casada com Zé Ramalho, que me convidou ao Rio para assinar o contrato de edição na editora dele (Martelo).

O disco Cabelos de Sansão estava quase pronto: faltava minha voz e a mixagem. Levei comigo os playbacks, ao som dos quais cantei para o casal todas as faixas do LP. Zé Ramalho gostou tanto que me pediu para lançar o disco pela CBS, onde tinha contrato. Eu, entusiasmado com o movimento alternativo, não quis trair a causa. Principalmente depois de todo o investimento do Lira Paulistana no trabalho. Pudesse fazer de novo, não faria diferente.

No mais, descobri um grande ponto em comum com Zé Ramalho: a admiração pela música dos Beatles. Morando em Fortaleza, ele não hesitava em mandar alguém ao Rio buscar os mais recentes lançamentos - em disco ou vídeo - do quarteto de Liverpool.

Tiago Araripe

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