quinta-feira, 15 de maio de 2008

O show do Papa na Emcetur. Por Mona Gadelha.

Na Fortaleza dos anos 70, a gente tinha muita vontade de ser punk. Natural para quem já fazia rock and roll no lendário Teatro de Arena da Credimus, na Avenida Santos Dumont, e nos raríssimos festivais que apareciam numa cidade embalada pelo lirismo do Pessoal do Ceará.

Essa introdução de memória afetiva é para relembrar um dia que jamais esqueci.

Aconteciam poucos shows na cidade. Nossa diversão era circular pelos bares – havia um aonde a gente ia, sem um tostão no bolso, chamado “O Bigode do Meu Tio”, na Aldeota, o outro lado da cidade para mim, que morava no Centro, na Rua Senador Pompeu.

A turma era quase toda do Centro (Siegbert Franklin, Lúcio Ricardo...). O Tui Falcão, sempre animadíssimo, não, era da Aldeota mesmo. E naquele ano – algo entre 1977 e 1979 – a gente sabia que o Papa Poluição (foto), grupo de nosso conterrâneo radicado em São Paulo, Tiago Araripe, iria se apresentar no Teatro da Emcetur.

Na tarde do show fui com o Siegbert a um armarinho comprar alfinetes gigantes para “costurar” uma calça em que ele cabia umas dez vezes. Era o modelito punk para o show do Papa. Eu já estava com meu longo vestido psicodélico, bordado de paetês por minha irmã.

Sentamos todos na primeira fila. E participamos do show com o nosso afã de adolescentes. Conhecemos Tiago, com seus cabelos de Sansão, muito amoroso com seus fãs. Ficamos amigos. E como eu adorava, naquela época, ir ao correio mandar cartas, e mais ainda de receber, começamos nossa história epistolar. Era engraçado receber as belas cartas escritas pelo Tiago com endereço de uma tal rua Wisard, na Vila Madalena, lugares tão distantes para mim na Fortaleza desconectada do mundo.

Hoje ando sempre pela Rua Wisard, onde fica o estúdio 185, do amigo Beto, e no Bar Piratininga, onde toca o Beba Zanetini. Moro em São Paulo. E Tiago em Fortaleza. Fizemos o caminho inverso. A música do Papa era divertida, original, ousada. Certamente aquela noite em que eles se apresentaram no Teatro da Emcetur deve ter influenciado todos nós que começávamos a tocar por puro prazer – e queríamos ser punk.

Saudades de Meg Magia.



Mona Gadelha

Um comentário:

Marcos Vinícius Leonel disse...

Fui testemunha ocular da passagem de som do primeiro dia, quando de repente pifou um aplificador de guitarra, foram levar pra concerto e eu fiquei desolado, esperando mais, sabia que um show à noite seria muito pouco