segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Paredes da memória

DISCOS

Música e memória

Diário do Nordeste, 12/9/2010

Mesmo em tempos de Internet e MP3 facilitando o acesso à música, muitos discos do passado jamais chegaram às novas gerações

No início dos anos 90, a popularização do CD praticamente sepultou as mídias anteriormente utilizadas para a música, como as fita de rolo e cassete e os discos de vinil e de cera. Estes ficaram relegados aos ouvidos dos privilegiados que ainda insistem em escutar música em antigos gravadores, picapes ou gramofones. Com essa realidade, muitas composições de artistas do passado que foram gravadas nas mídias citadas, e com o registro analógico, jamais chegaram sequer ao CD e seguem inacessíveis às novas gerações, em plena era da informação.

No que se refere aos discos que foram lançados por gravadoras e que já chegaram ao CD, algumas iniciativas isoladas merecem ser citadas, como as implementadas por Charles Gavin, músico da banda Titãs que também mantem um programa de TV no Canal Brasil - "O Som do Vinil" - e Marcelo Fróes, jornalista e escritor que pesquisou e relançou arquivos de artistas da MPB, da Jovem Guarda e do rock, como Renato Russo. E mais recentemente trabalha também no ramo para o Selo Discobertas. Ao lado de Guto Graça Mello, Fróes produz para um lançamento previsto para dezembro próximo um box intitulado "Pra Sempre", com a obra de Roberto Carlos, trazendo músicas dos discos de 78 rotações registradas entre 1960 e 1962, além do disputado LP "Louco por você", inédito oficialmente em CD, álbum renegado pelo próprio Rei.

Memória no Ceará

Os artistas da música do Ceará desde a Era de Ouro da MPB, como Gilberto Milfont, Catulo de Paula e o grupo 4 Ases e 1 Coringa, jamais tiveram oficialmente seus discos lançados em CD. Já outros do porte dos Índios Tabajaras tiveram duas coletâneas lançadas pelo Selo Revivendo. Parte da obra do compositor Lauro Maia foi disponibilizada para o público através de iniciativa do músico e produtor Calé Alencar e do Arquivo Nirez, inicialmente num vinil duplo em 1993 e depois, já em CD, em 1998, incluindo novas gravações da obra de Lauro.

Ainda sob a batuta de Calé Alencar, duas outras edições importantes para a cultura do Ceará foram recuperadas do vinil para o CD. Em 1996, o então LP coletivo "Terra da Luz", lançado originalmente na década de 60 e que reuniu, entre outros, Evaldo Gouveia, Vocalistas Tropicais e Mário Alves Também de 1996 é o álbum "Filgueiras Lima - Poesia", na voz do próprio autor e que tem a flauta do francês Pierre Chabloz, estimulador maior da obra do artista plástico cearense Chico da Silva.

Ainda no catálogo idealizado por Calé está a série "Coleção da Memória do Povo Cearense", com os discos atualmente composta dos discos: "Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto" (1998), "Cego Oliveira" (1999), em parceria com Rosemberg Cariry, "Patativa do Assaré" (2000), "Penitentes de Barbalha" (2000), "Maracatus e Batuques"
(2001), "Caixa Patativa" (CD duplo de 2004), "Viva Patativa" (2005) e "Vocalistas Tropicais" (2006).

Outro grande destaque, já na cena nacional, foi o lançamento também em CD do disco "Cabelos de Sansão", do cantor e compositor cearense Tiago Araripe, gravado em 1982, em São Paulo, e reeditado em 2008 pelo selo "Saravá", do maranhense Zeca Baleiro.

Discos esperam por relançamento

Grupo que está presente na cena lítero-musical cearense desde 1974, o Quinteto Agreste ainda não tem sua obra completa oficialmente disponível digitalizada. Apenas com um CD lançado, o álbum "Caminhando sempre", de 2005, os integrantes do grupo gravaram, ainda nos tempos do vinil, um compacto-simples, em 1980, e os LPs "Sol maior" (1982) e "Pássaro de Luz" (1986). Todos permanecem inéditos em CD.

Sobre as dificuldades para esses discos serem relançados oficialmente, os integrantes atuais do Quinteto Agreste, grupo que se tornou bastante popular no Ceará nas décadas de 70 e 80 por apresentações em espaços como o Projeto Luiz Assunção (de shows itinerantes por Fortaleza) e o antigo Teatro da Emcetur, e ainda em shows pelo Interior do Estado, afirmam que faltam editais de apoio e projetos específicos para permitam esse tipo de ação. "Contamos com patrocínio para lançar os discos de forma alternativa, nos anos 80", recorda o cantor e compositor Arlindo Araújo.

O rock do Peso

Uma banda de blues/rock bastante emblemática no cenário nacional na primeira metade da década de 70 foi O Peso, que tinha como vocalista e compositor Luiz Carlos Porto. O grupo também contava com Gabriel O´Meara (guitarra), Carlinhos Scart (baixo), Constant Papineanu (piano) e Geraldo D´Arbilly (bateria). O único LP da banda em sua formação original de 1975, o álbum "Em busca do tempo perdido", até pouco tempo era relíquia de colecionadores, disputado num preço exorbitante por quem se interessasse, em sebos. O CD foi lançado em 2009 selo especializado em relançamentos, o Museu do Disco, parceria do colecionador Valmir Zuzzi. Trata-se de mais um exemplo da necessidade de mais registros para a preservação da memória da produção musical cearense.

NELSON AUGUSTO
REPÓRTER

5 comentários:

Rita Cássia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rita Cássia disse...

Olá,Thiago, também acho que este resgate é importantíssimo para a preservação da nossa cultura.
Lendo a matéria no seu Blog lembrei da grande satisfação que senti há pouco tempo lendo a notícia:"Trinta anos depois de seu lançamento, o disco "Massafeira" ganha reedição em CD, encartado num livro coletivo sobre o antológico encontro de artistas cearenses".

Foi uma grata satisfação para mim saber da iniciativa de Ednardo em resgatar um dos discos mais importantes da história da música Cearense e que marcou um período em que a música nordestina chegava ao sudeste de forma mais ampla e agregando novas informações à MPB.
Espero que venham muitos outros resgates desta natureza pelo Brasil a fora...

Parabéns, pelo Blog!!!

bjo!

Tiago Araripe disse...

Grato, Rita.
Gostei também da notícia da reedição do Massafeira.
Bj.

Junú disse...

Parabéns amigo!

Outro dia estava lhe vendo aqui no Making of do CD que homenageia o Jacinto Silva!

Quando vier ao Rio, avise!

Abraços

Tiago Araripe disse...

Grato, Geraldo.
Aviso sim.
Abraço!