quarta-feira, 28 de abril de 2010

Hoje, no Diário de Pernambuco

Capa do caderno Viver.

Cancioneiro de Jacinto



DISCO


Criações do compositor que fez história em Caruaru são reunidas em álbum tributo, que será lançado amanhã.


Michelle de Assumpção
michelleassumpao.pe@dabr.com.br

Jacinto Silva faz parte do primeiro time de compositores do forró, mais precisamente do coco de embolada. Começou a cantar ainda adolescente, forrós e cocos. Depois não teria problema em admitir que Jackson foi sua escola. Foi com ele que Jacinto aprendeu a dividir o ritmo, mas confessava que, quando Jackson cantava uma música, poderia dar três versões para a mesma, cada uma com uma divisão diferente. Já ele dizia que conseguia cantar no máximo com duas divisões.

Nascido em Palmeira dos Índios (Alagoas), Jacinto foi morar em Caruaru em 1958, onde ficou até o final de vida. Viajava por todo Brasil - muitas vezes participou de caravanas ao lado dos seus "mestres" Jackson e Luiz Gonzaga-, mas era para Caruaru que voltava sempre. E por isso não teve a fama dos dois primeiros. O peso da sua obra, porém, está cada vez mais evidenciado.

Amanhã, a loja Passa Disco (Shopping Sítio da Trindade) sedia a festa de lançamento de um disco tributo a Jacinto. O álbum, quetem dezesseis faixas e intérpretes diferentes, foi idealizado pela agência Link Comunicação, cujo presidente Edson Barbosa era amigo da família de Jacinto. Parte da tiragem ficará com a família. A outra será entregue a clientes da agência e uma terceira comercializada. "A tiragem é limitada, o objetivo era expandir ainda mais a obra de Jacinto para o público, além dos próprios cantores que nunca haviam gravado suas composições", conta Tiago Araripe, que cuidou da produção musical. O CD foi feito em parceria com Estúdio Muzak e selo Candeeiro Records. As músicas podem ser ouvidas no perfil de Jacinto Silva no Myspace.

Faixas

O disco é aberto pelo maestro Spok, que canta em Aboio de um vaqueiro. Tem Margareth Menezes, que já havia gravado Jacinto em Aquela rosa. E também Caju e Castanha (Moleque de rua), Maciel Melo (Plantação), Isaar França (É tempo de ciranda), Josildo Sá (Filosofia do forró), Xangai - amigo e cantador antigo das coisas de Jacinto - presente em Pisa maneiro, Aurinha do Coco (Fonte de luz), entre outros. Tom Zé, que não conhecia a obra de Jacinto, topou gravar Coco do gago. A música tem uma ludicidade e criatividade que combinaram com o estilo de Tom Zé. Elba, que também nunca havia gravado Jacinto, gostou tanto de Gírias do Norte que pediu para incluir a música em seu próximo CD.

O intérprete mais privilegiado do disco se chama Silvério Pessoa que gravou, no ano 2000, um disco inteiro com músicas de Jacinto, chamado Bate o mancá. Para a coletânea tributo, Silvério selecionou Teste para cantador, cujos vocais divide com Jacinto. A música foi tirada do disco do coquista, Só não dança quem não quer, lançado em 2000, no mesmo ano e mesmo estúdio (do músico Zé da Flauta) que Silvério fez Bate o mancá. "Ele gostava muito dessa música", lembra Silvério. E recorda que gravar Jacinto era um projeto que tinha ainda com a banda Cascabulho, e que só conseguiu realizar no seu primeiro disco solo.

"O disco, tudo que fiz com Jacinto, foi ao lado dele. Por isso não é um disco homenagem como dizem, foi umaparceria. Eu ia para Caruaru, ele vinha pro estúdio. Opinou tudo comigo. Minha tristeza é que ele não alcançou o disco lançado", resume o músico. Jacinto Silva faleceu em fevereiro de 2001, tendo gravado 24 discos, entre 78rpm e LPs, e dois CDs. Não teve, como Jackson do Pandeiro, intérpretes e defensores poderosos como Gilberto Gil ou Caetano Veloso. Mas ainda hoje artistas que se encantam com sua música. É um compositor ainda a serviço da cultura popular.

Diário de Pernambuco, 28 de abril de 2010

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